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Novos casos de sarampo: conheça os perigos e como prevenir

Desde o início de janeiro que já foram notificados sete casos de sarampo no País. Qual deve ser o nível de preocupação relativamente à possibilidade de ressurgimento desta doença infeciosa em Portugal? Será que ainda nos lembramos dos sintomas do sarampo? Uma especialista em saúde pública explica o que representa o diagnóstico destes casos e qual o melhor método de prevenção.

13 Fev 2024 - 09:58

Novos casos de sarampo: conheça os perigos e como prevenir

Desde o início de janeiro que já foram notificados sete casos de sarampo no País. Qual deve ser o nível de preocupação relativamente à possibilidade de ressurgimento desta doença infeciosa em Portugal? Será que ainda nos lembramos dos sintomas do sarampo? Uma especialista em saúde pública explica o que representa o diagnóstico destes casos e qual o melhor método de prevenção.

Nas últimas semanas, as notícias têm dado conta do diagnóstico de alguns casos de sarampo em Portugal. O mais recente diagnóstico reportado é o de um rapaz de 29 anos na zona Norte do País e trata-se de um caso secundário, ou seja, de transmissão direta por outro caso diagnosticado já este ano na região.

Ao todo, o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge já confirmou a existência de sete casos de sarampo desde 11 de janeiro, dois na Região de Lisboa e Vale do Tejo e cinco na Região Norte, informa a Direção-Geral da Saúde.

A primeira notificação surgiu logo no início de 2024 na região de Lisboa, uma criança de 20 meses, não residente em território nacional e não vacinada, a que se seguiu outro diagnóstico, desta feita numa criança de sete anos, igualmente não residente em Portugal e não vacinada, que tinha estado em contacto próximo com o primeiro caso notificado.

O primeiro diagnóstico a Norte do País foi o de um homem de 54 anos, também ele não residente em Portugal e sem registo de estar vacinado, e os restantes ainda se encontra em estudo o modo de infeção. Que perigo representa esta importação de casos de sarampo? E ainda conhece os sintomas desta doença?

O que é o sarampo?

O sarampo é uma doença infeciosa causada por um vírus RNA, membro do género Morbillivirus e da família Paramyxoviridae, que se transmite pelo contacto direto com gotículas infecciosas ou pela propagação aérea quando a pessoa infetada tosse ou espirra. Ou seja, a forma de transmissão é a mesma que conhecemos de outras doenças infecciosas como a gripe ou a infeção pelo vírus SARS-CoV-2, responsável pela Covid-19.

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Quais os sintomas do sarampo?

Os sintomas associados a esta infeção aparecem entre sete e 14 dias após o contacto com o vírus. Os primeiros sinais podem ser:

  • Febre 
  • Tosse
  • Corrimento nasal
  • Conjuntivite

Passados cerca de dois dias do início destes sintomas, surgem pontos brancos no interior da bochecha, como se descreve na página do SNS24, aos quais se dá o nome de manchas Koplik.

Entre três e cinco dias após o início da sintomatologia, dá-se o aparecimento da erupção cutânea característica do sarampo, isto é, pequenas manchas avermelhadas que começam por surgir na face e depois se espalham para o tronco e para os membros.

Nesta altura, é igualmente frequente aparecer febre alta e um estado de extremo cansaço físico e psíquico.

Quais as principais complicações do sarampo?

Na maioria dos casos, o sarampo é uma doença mais ou menos ligeira, da qual as pessoas infetadas recuperam totalmente em breves semanas. 

Contudo, como é explicado na página oficial do organismo americano Centers for Disease Control and Prevention (CDC), o sarampo pode causar complicações “sérias”, sobretudo nos grupos da população considerados mais vulneráveis, nomeadamente as crianças com menos de cinco anos, os adultos com mais de 20 anos, as mulheres grávidas e pessoas com o sistema imunitário comprometido por doenças como a leucemia ou a infeção pelo VIH

Entre as complicações mais frequentes estão as infeções nos ouvidos, que podem conduzir à surdez, e a diarreia.

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Na lista de complicações mais severas do sarampo contam-se: 

  • Pneumonia: segundo o CDC, é a principal causa de morte entre as crianças pequenas infetadas com sarampo;
  • Encefalite: uma inflamação do cérebro que pode resultar em disfunções neurológicas;
  • Complicações na gravidez: nas mulheres grávidas que não foram vacinadas, o sarampo pode conduzir a partos prematuros ou ao nascimento de bebés com baixo peso;
  • Morte: o mais recente relatório publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) refere que, em 2022, o crescente número de crianças não vacinadas fez novamente crescer os números do sarampo para cerca de nove milhões de diagnósticos, dos quais 136 mil resultaram em morte, a maioria em crianças pequenas.

Portugal está livre de sarampo?

Em 2017, Portugal foi considerado pela OMS como um país em que o sarampo foi eliminado. Tem-se falado muito que se trata de uma doença erradicada no País, mas Vera Leal Pessoa, coordenadora do Grupo de Trabalho da Vacinação da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP), explica ao Viral que “a única doença que está erradicada é a varíola”, pois esse termo implica que “uma interrupção da transmissão do vírus a nível mundial”.

Portugal recebeu o certificado de eliminação do sarampo depois de ter registado um período de 12 meses sem notificações de casos de transmissão endémica, isto é, de transmissão entre pessoas residentes, depois de 36 meses em que já não se tinham observado linhas de transmissão nacionais. 

Como se conseguiu eliminar a transmissão em Portugal?

A introdução da vacina contra o sarampo no Programa Nacional de Vacinação (PNV) em 1970 foi o grande aliado para que as cadeias de transmissão do vírus a nível nacional fossem quebradas. 

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A vacina combinada contra o sarampo, a parotidite epidémica (também conhecida por papeira) e a rubéola (VASPR) é administrada em duas doses “idealmente aos 12 meses e aos cinco anos como está consagrado no PNV”, refere a especialista.

Vera Leal Pessoa explica que “a cobertura nacional para estas duas doses é superior a 95% consistentemente há quase duas décadas” e tem sido essa elevada cobertura a responsável por Portugal ter conseguido eliminar a transmissão da doença, devido à criação da imunidade de grupo

Aliás, acrescenta a médica de saúde pública, “de acordo com o último relatório publicado, referente aos dados de 2022, a cobertura vacinal da primeira dose de VASPR foi de 98% e a da segunda dose foi de 95%”, mantendo-se, assim, a imunidade que protege a população residente de uma possível epidemia de sarampo

Há motivos de preocupação com os casos importados?

Vera Leal Pessoa destaca que, apesar de Portugal ter uma boa cobertura vacinal contra o sarampo, as autoridades de saúde não relaxam os cuidados e a vigilância dos dados epidemiológicos.

Em primeiro lugar porque, ressalva, “os dados da cobertura vacinal são nacionais e não nos podemos esquecer que, à medida que nos alargamos em termos geográficos, verificamos que essa cobertura nacional não é uniforme”. 

Existem “algumas assimetrias regionais e locais que podem aumentar a suscetibilidade da população e que gera algum desafio quando temos casos importados de outros países”, explica a dirigente da ANMSP.

Além disso, acrescenta, à medida que envelhecemos, “a imunidade que a vacina confere vai diminuindo e, por isso, é possível que, mesmo pessoas vacinadas, na presença de um surto, acabem por contrair a doença e terem sinais e sintomas”.

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Ainda assim, sublinha, nesses casos “o quadro clínico costuma ser mais ligeiro, a possibilidade de existirem complicações é menor e são situações menos contagiosas”.

Podemos ter mais casos importados?

Essa hipótese não é de descartar. Com um conjunto de países a não alcançar os 95% de cobertura vacinal contra o sarampo, que confere a tal imunidade de grupo, têm surgido em vários países alguns focos epidémicos que têm preocupado as autoridades internacionais, como se pode ler aqui e aqui.

De acordo com Vera Leal Pessoa, os dados europeus mais recentes revelam que os países mais afetados por casos de sarampo são “a Roménia, a Áustria, a Lituânia, a Eslováquia, a Bélgica e a França”.

E muito embora já não pertença à União Europeia, o Reino Unido tem estado a receber das autoridades atenção redobrada devido ao aumento exponencial no número de diagnósticos, como se reporta neste texto da revista Nature

A Irlanda também reportou a morte de um homem causada pelo sarampo. 

Contactei com um caso de sarampo: O que fazer?

Apesar de as pessoas nascidas antes de 1970 terem imunidade por, muito provavelmente, terem contactado com a doença, e as nascidas depois desse ano estejam, em princípio, vacinadas, a DGS recomenda, em primeiro lugar, que as pessoas verifiquem o estado vacinal no boletim de vacinas físico, em papel, ou consultando o boletim de vacinas eletrónico, na página pessoal do portal SNS24.

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No caso de ter contacto com um caso de sarampo, está recomendada a realização de “uma profilaxia pós-exposição” seja qual for o seu estado vacinal. 

Essa profilaxia que pode ser feita de duas formas, “ou administrando uma dose da vacina, o que deve ser feito até 72 horas após a exposição, ou também pode ser administrada imunoglobulina humana, em casos em que a vacina não está recomendada, nos seis dias  após a exposição”, explica a especialista.

13 Fev 2024 - 09:58

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